A Web Summit, uma das maiores conferências de criatividade e tecnologia do mundo, foi realizada entre os dias 2 e 4 de dezembro. Eu, jovem jornalista, resolvi me aventurar a cobrir o evento para a Forrest e, definitivamente, foi uma das experiências mais enriquecedoras da minha vida.

Diferente de todos os outros anos, o evento teve que ser realizado de forma 100% online – o que, de forma alguma, tirou o brilho dos nomes de peso que foram convidados para dar uma palavrinha sobre as suas áreas. Isso possibilitou um maior trânsito entre os bate-papos, mas tirou o efeito “esbarrão”: quando realizado ao vivo, um evento conta com a presença de centenas e até mesmo milhares de pessoas e, assim, a probabilidade de você fazer um contato é grande. Óbvio que durante uma pandemia como a que temos vivido, a única saída é que tudo seja feito da forma mais segura possível e, aqui, o contato presencial teve uma saída: o “Mingle”, uma aba na qual você entrava em um papo ao vivo com outro participante e, ao longo de três minutos, trocava informações.

E foi com essa energia que tive o primeiro contato com a Web Summit.

As plataformas

Assim que conseguimos os nossos tíquetes, baixei o aplicativo no celular. E me surpreendi bastante. A interface era exatamente o que se espera de um evento voltado para criatividade: intuitivo e clean. Ali, eu conseguia ver horários de palestras, uma biografia de cada palestrante, um chat com todos que estavam na sala ao mesmo tempo e, durante as lives de perguntas e respostas, uma área reservada apenas para os seus questionamentos (que, às vezes, eram lidos em tempo real).

Por algumas transmissões terem sido realizadas ao mesmo tempo que outras, volta e meia havia choque de horários. E esse foi o primeiro ponto negativo que encontrei: eu não consegui encontrar a gravação das palestras (e não sei se a funcionalidade existia) – assim, como na vida real, tive que dar prioridades ao que mais interessava no momento. Os choques de horário não eram tão comuns, então não havia a urgência de ficar na loucura de procurar a que mais tinha fit com você – elas geralmente eram de assuntos completamente diferentes, também.

O primeiro dia – estou meio perdido?

O sol do dia 2 de dezembro já havia raiado há muito tempo quando eu finalmente sentei na cadeira do computador. Por sorte, Portugal está a 3 horas (pra frente) do nosso fuso, então as conferências começavam um pouco mais cedo para nós. A primeira delas, antes mesmo da abertura propriamente dita, começava às 8h20, um papo com o criador da Wikipedia, Jimmy Wales. Ele falou desde o processo de fundação da Wikipedia – que até então se chamava Nupedia -, até como ele tem tentado combater a enxurrada de notícias falsas que são distribuídas nas redes sociais hoje em dia.

Segundo ele, o modelo no qual as redes sociais foram pensadas não colocam como prioridade a veracidade das informações, mas um possível lucro com cliques e anúncios. E essa questão da dualidade entre fake news e redes sociais foi o que fez com que ele criasse a WT.Social, um “hub” onde jornalistas e sociedade podem se encontrar para trocar informações e até mesmo conferir a veracidade de determinadas notícias publicadas.

E é uma tendência que tem sido discutida ano após ano, principalmente em época de eleições. Em setembro deste ano, a ex-cientista de dados do Facebook, Sophie Zhang, divulgou um memorial interno ao Buzzfeed, onde revelava que alguns governos utilizavam a plataforma para mudar o rumo das votações – com casos confirmados no Azerbaijão e em Honduras, além de comportamento suspeito em outros países como o Brasil, India e Equador.

 

Fake News e redes sociais – uma combinação explosiva (às vezes literalmente, né?)

Mas nem todo papo sobre rede social tinha que, necessariamente, falar sobre problemas: um pouco mais tarde, foi realizada a conferência com o criador do Discord, Jason Citron. Pra quem não conhece, o Discord é uma plataforma de VOIP e transmissão de vídeo que nasceu no meio gamer e, agora, com todos os lockdowns da pandemia, tomou tração em outros mercados. E é justamente nisso que eles estão focando, conforme o que foi dito na live: facilitar a interface para quem não está acostumado com milhares de botões (como o público que curte jogos eletrônicos) e, assim, atrair cada vez mais pessoas de outras profissões, como médicos, engenheiros, alunos em sala de aula e até mesmo conseguir sustentar reuniões de grandes empresas.

O primeiro dia finalizou por volta das 17h e levamos alguns dos principais highlights pro nosso Instagram. Não tem como comentar sobre cada uma das palestras aqui, afinal, é MUITO conteúdo despejado ao longo do dia e daria pra fazer umas vinte postagens só com os principais painéis.

Segundo dia: hora de brilhar

Com uma pauta mais afiada e entendendo melhor a dinâmica do evento, o segundo dia foi o mais corrido.

Tivemos alguns insights sobre o mercado de produção e distribuição de conteúdo com um bate-papo com Bill Magnuson, CEO da Braze, empresa de distribuição e engajamento de conteúdo para marcas. Para ele, é preciso que as empresas parem de agir como detetives e virem melhores ouvintes. Muitas vezes a equipe de comunicação e de marketing ficam tentando dividir o público através de zilhões de métricas, plataformas e aplicativos. Mas… E se ouvíssemos o que eles têm a dizer? Só assim, e respondendo de uma forma mais célere, é possível garantir uma relação de proximidade e melhorar a capacidade de segmentação do público.

Um pouco depois, participamos de um papo com Jessica Alba. Pensar que eu estava a poucos megabytes de uma estrela do cinema e, agora, empreendedora de sucesso, fazia com que o pequeno David – que assistiu ao primeiro Quarteto Fantástico – vibrasse de alegria. Ela comentou um pouco sobre a rotina da sua empresa, a The Honest Company, e como a pandemia mudou a nossa relação intrapessoal. Alba (já somos íntimos, né?) revelou que não é muito fã de viagens a reunião, já que tudo pode ser resolvido com uma videoconferência – e que o tempo de deslocamento poderia ser utilizado de uma forma melhor. Ela também disse que todo o processo que temos vivido evidenciou como podemos ser produtivos de uma forma que nunca imaginamos.

E, pra finalizar o dia com chave de ouro, fui cobrir a conversa com Bobby Berk, um dos apresentadores do reality show “Queer Eye”, da Netflix. Sempre fui muito fã da série e achei que seria interessante saber um pouco mais sobre o processo de produção, como ele pensa e, principalmente, o efeito que as mídias têm na representatividade e de que forma elas podem ajudar na hora de uma pessoa se encontrar. Assim, na cara e na coragem, lancei a pergunta. Minutos se passaram e o mediador disse “estamos chegando ao final do nosso papo, mas antes tenho uma pergunta interessante aqui”. Meu coração acelerou quando vi o meu nome na tela.

Perguntei justamente o que queria saber, como disse no parágrafo acima. A resposta sobre a reflexão foi fenomenal – e emocionante.

“Uma das maneiras que Queer Eye consegue ajudar o espectador a se encontrar é dando permissão para que eles sejam eles mesmos. Seja um cara que curte pintar unhas, independente de quem seja, nós queremos que você tenha a permissão para se amar, que não ligue para o que os outros dizem. Não ligue para as tendências, se você gosta de se vestir de forma estranha, vá em frente! É o que te faz feliz. Se encontrar é se aceitar. É como RuPaul costuma dizer: se você não se ama, como será capaz de amar alguém?

E foi assim que finalizei o segundo dia. Chique, né? Time to shine.

Último dia: uma apresentação em cima da outra

O terceiro dia – e último – começou um pouco mais tarde, mas isso não significa que foi o menos badalado. Pelo contrário. Muitas conferências, agora, apresentavam choques de horário que impossibilitavam a visualização simultânea. Pra se ter uma ideia, foi no último dia que tivemos a conversa com Malala Yousafzai, ativista e co-fundadora da Malala Fund. Ela fez um discurso emocionante para as jovens mulheres sobre acreditar na própria voz e seguir os sonhos, pois já conseguiram provar que são capazes de mudar o mundo – seja na política, na economia ou na história.

E por falar em acreditar na própria voz, claro que num escopo bem menor e numa temática completamente diferente, Ben Jeffries, criador da plataforma “Influencer”, fez uma importante ponderação sobre o mercado de influência nas redes sociais. Ele abriu a minha mente (e a de muita gente) para o mercado dos micro-influencers: muitas vezes as empresas focam muito mais em pagar um alto cachê para influenciadores com centenas de milhares de seguidores e nem sempre o resultado é o esperado. Para ele, o ideal é que também abramos os olhos para os pequenos influenciadores, locais, e que façamos uma rede de difusão da nossa marca. Assim, estaremos acreditando no potencial de cada um deles e teremos muito mais pessoas comentando sobre determinado produto.

Fechamos o dia com o discurso emocionante de Jane Eliott, conhecida por dar apoio aos movimentos negros e criadora do exercício “Olhos Azuis/Olhos Castanhos“. Ela afirmou, com claro pesar no seu tom de voz, que foi apenas com o caso George Floyd que a população branca finalmente enxergou o que os negros sofrem – e reclamam – há anos. Foi necessário ter uma câmera fixa, enquanto o policial asfixiava o homem, para que abríssemos os nossos olhos. Todos no chat ficaram em silêncio para ouvir o que ela e Angelica Nwandu, fundadora da The Shade Room tinham pra falar.

No mais, foram centenas de salas lotadas e com espectadores ao vivo de todos os cantos do mundo. A nossa cobertura foi possível graças à parceria com a Startup Portugal, que deu uma forcinha no processo.

Espero voltar no ano que vem – e que, dessa vez, possa ir ao vivo.começavam

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